Preâmbulo
Lisboa; Lisboa; Lisboa; Paris; Barcelona; Porto; Roma; Lisboa; Porto; Florença; Londres; Berlim; Sevilha; Madrid; Nova York. A Maratona de Nova York foi a minha 15ª Maratona, a minha terceira Major e a minha primeira prova fora do continente europeu.
Depois desta pequena sucessão de Maratonas tão diferentes entre elas:
- em termos de percursos (só repeti um percurso - Porto, 2006 e 2007);
- na qualidade de organizações (desde mega organizações até quase inexistente);
- no nº de espectadores a apoiar (de quase inexistentes até 2 milhões):
- nº de atletas à chegada (de 201 até 43475)
sinto-me com capacidade de comparar e classificar a mesma:
Organização: 4,5; Prova: 5; Espectadores: 5.
Antes da Prova
De todas as cidades onde estive, para participar numa prova, esta é a que mais vive a sua Maratona. E compreende-se bem a razão. Todos sabemos que os americanos são “reis” do “showbiz” e que tornam qualquer acontecimento numa potencial fonte de receita. Os dados económicos da prova são simplesmente assombrosos: o orçamento da prova são cerca de 25 milhões de dólares e as receitas previstas em torno desta edição de 2009 são de 250 milhões de dólares. Claro que estamos a falar de outra divisão, mas mesmo assim custa-me compreender como as maiores cidades Portuguesas não aproveitam as suas condições naturais para tornar as suas Maratonas em grandes acontecimentos Internacionais. Infelizmente, correndo o risco de ser injusto, penso que a culpa está mais na falta de apoio das câmaras municipais do que da qualidade dos organizadores locais. Talvez o “boom” esteja quase acontecer, pelo menos existem alguns indicadores. Vejam o maravilhoso resultado conseguido na Corrida do Tejo quando uma empresa (Nike) e uma autarquia (Câmara de Oeiras) juntam esforços. Quem sabe..., talvez daqui a poucos anos estejamos a correr em Lisboa noutras condições.
Mas voltemos a NOVA YORK. A feira que teve lugar no Jacob Javits Convention Center, local muito grande e onde estiveram mais de 100 expositores, está muito bem organizada. Apesar da grande afluência de pessoas tudo se passou de forma relativamente tranquila. O que mais me impressionou na feira foi o extraordinário stand da ASICS (grande qualidade e variedade de produtos) onde me perdi completamente nas compras.
A espera...
Talvez a parte mais negativa da organização é necessidade dos atletas estarem desde muito cedo na zona de partida (Arthur Von Briesen Park). A nossa camioneta saiu cerca das 5:30 do Hotel e chegamos à zona de concentração cerca de 1 hora depois. Foi uma longa espera (partida às 9:40) mas não muito dolorosa. Tivemos alguma sorte pois a chuva parou quando chegamos ao local de concentração. O espaço era amplo e bem organizado. Muitos WC’s, bebidas quentes, alguma comida e muita musica. A partida estava muito bem organizada.
Os atletas partiram em 3 ondas (separadas cada uma de 20 minutos) cada onda tinha 3 zonas diferenciadas que por sua vez tinha vários “currais”. Eu, por exemplo, parti na primeira onda, na zona azul no curral “E”. Este tipo de organização permitiu que cada atleta começa-se logo a corre ao seu ritmo desde a linha de partida.
A partida
Como já disse parti para esta prova com um só objectivo: terminar e gozar o ambiente ao máximo. E assim parti no meio da multidão (cheia de caras bonitas) tendo ao meu lado o Pedro (o Luís partiu noutra zona e tinha como objectivo andar bem depressa). O Pedro, contrariamente à minha pessoa tinha um objectivo difícil de concretizar: estar comigo desde km 0 até ao 42,195 (batendo um novo record – o maior nº de minutos que alguma vez já fez a correr). Foi fantástico... ter um amigo ao lado todos estes km’s, não como o objectivo de me ajudar a terminar mas partilhar todas as múltiplas sensações que sentimos ao longo das 3h32m01s que durou a nossa prova. Eu sou um privilegiado que vou recebendo estes mimos dos meus amigos
Os primeiros KM
Mal foi dado o tiro de partida de canhão começamos a andar, quando cruzamos a linha de partida começamos a correr sem atropelos. Escolhemos inicialmente correr a um ritmo cauteloso (8:29/milha), pois a subida até meio da Verrzano-Narrow assim o aconselhava. A segunda milha, já a com grande parte a descer, foi mais rápida (7:29). A partir daí estabilizamos a nossa velocidade. Mudando a unidade de medida, que isto das milhas faz muita confusão à cabecinha, os primeiros 5km formam cumpridos em ritmo calmo (4:55/km) que surpreendentemente, nos segundos 5km, aumentou (4:44/km).
Brooklyn
Estava à espera que a terceira légua fosse muito mais lenta (acima dos 5:00/km), devido ao sobe e desce constante de Brooklyn, mas não, pois fomos completamente propulsionados pelo caloroso e ensurdecedor apoio do público que em algumas zonas nos levou ao colo. Depois de sair de Brooklyn estava exausto, não fisicamente mas emocionalmente, pois formam cerca de 20 minutos muito emotivos (um dos pontos mais altos de todas as maratonas que até hoje corri).
Ao sair da zona de Brooklyn foi um alívio, pela primeira vez soube bem ouvir poucos encorajamentos. Durante uns km’s tive dificuldade em trocar alguma palavra com o Pedro pois estava muito emocionado. Mas lá consegui estabilizar.
A meio
Depois foi tentar rolar até à meia. Antes de chegar ao meio da prova, que foi cumprida em 1:42:25 (na Paulaski Bridge em Queens), previ que a prova estava a começar para mim. Para quem não tinha objectivos de tempo vinha muito depressa. Portanto já sabia “QUE IA PAGÁ-LAS”pois a segunda parte da prova é muito mais dura e o cansaço não iria ajudar.
Dito e feito, entre os 20 e 25km a média já passou para 5:03/km e comecei mesmo a sentir-me cansado, mas ao entrar em Manhattan na 1st Avenue ao km 26 o publico regressou em magote o que me ajudou a ter um ultimo fôlego (entre os 25 e 30km - 4:57/km). Mas o final desta grande avenida é a subir, a entrada no BRONX não ajudou e o ritmo caiu irremediavelmente para 5:15/km.
O sofrimento final
A reentrada novamente em Manhattan deu cabo de mim. Entre os km 35 e 39 é sempre a subir e fiquei sem combustível fazendo a oitava légua à média 5:23/km havendo alturas onde a velocidade ando perto dos 6:00/km.
Já está
Mas quando cheguei ao km 40 virei-me para o PEDRO e disse-lhe “JÁ ESTÁ” só faltavam 2 km de sofrimento, mas agora misturado de muito prazer pois o publico é muito em Central Park e estávamos em momento de festa. E quase acabar, já na rua 59 e um pouco antes de chegar a Columbus Circle, o PEDRO teve um ataque de loucura brilhante começando a zigzaguear em grande velocidade levando ao rubro o publico. Depois de se acalmar juntou-se e gozamos os últimos 500 metros na BOA.
Tudo o resto poderei contar-vos de viva voz, mas sempre vos poderei dizer que foi uma excelente jornada vivida numa excelente prova, numa cidade maravilhoso e com amigos de quem cada vez gosto mais.
Agora a próxima loucura internacional é reviver PARIS (já estou inscrito) e quem sabe poderei ainda este ano fazer o novo percurso da Maratona de Lisboa.