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domingo, 25 de outubro de 2015

Maratona de Amesterdão 2015

Introdução

Foram 21 semanas de preparação. Já há muito tempo que não fazia um plano de treino tão longo, mas desta vez justificava-se. As maratonas anteriores foram mal planeadas. Pouco adequadas, ao trabalho, às motivações, à idade e um sem número de outras coisas. Consequências? Várias…  entre elas algumas lesões frustrantes. Por esta razão, decidi que que este plano teria de ser muito progressivo e aberto a todas as adaptações que o corpo pedisse. Num período de quase 5 meses, treinei com muitas pessoas e falei das minhas expetativas com muitas mais. É com vocês todos que partilho este meu pequeno relato, sobre a Maratona de Amesterdão, pois de uma ou outra forma foram importantes neste meu caminho.

Antes de tudo

Está prova começa no Natal de 2014 quando a Carmen me oferece como presente de Natal a inscrição na maratona de Amesterdão de 2015. Fiquei muito feliz. Sempre foi uma prova que quis fazer e ir-me-ia permitir conhecer uma cidade que há muito desejava conhecer. 

Entretanto estava em processo de treino para a maratona de Sevilha em fevereiro deste ano. O treino estava a correr mal…  lesões, falta de tempo, falta de vontade, falta de motivação… tudo estava lançado para que o “desastre“ acontecesse… é assim foi… terminei-a, mas em mau estado físico e mental. Imediatamente decidi que na próxima teria de ser diferente.


Chegada na Maratona de Sevilha 2015
Para começar tinha que haver ter uma cenoura maior (motivação). Foi fácil… iria retomar o objetivo de fazer mínimos para Boston. Já os tinha atingido há uns anos atrás, mas devido a razões económicas não consegui fazer na altura a viagem até Boston.

Para ir a Maratona de Boston, já só me poderia inscrever em 2016 para fazer a prova em abril de 2017. Nessa altura já estarei no escalão +55 anos sendo o mínimo para este escalão mais conforme com as minhas reais possibilidades (3h40m). É certo que desde novembro 2012 que não fazia uma marca inferior aos mínimos. 

Alcançar os mínimos é possível? Claro que é.... difícil? claro que sim... então… mãos à obra. 
Round 1 - MARATONA DE AMESTERDÃO 

A primeira tentativa para Boston seria em outubro de 2015, para me poder inscrever em setembro de 2016, para correr em abril de 2017. Uauuuuu… isto sim é um plano a médio prazo
E lá fui eu fazer o meu plano…  para 18 de outubro de 2015.

Treino

Fiz um plano de 20 semanas (começaria a 1 de junho) mas tinha uma semana zero, ou seja, na verdade planei 21 semanas. Era um plano moderado com subidas muito ligeiras de quilometragem/intensidade e com períodos de descanso.
Teria de cumprir parte dele em férias, o que era mais uma dificuldade a somar às diferentes fases do trabalho, às férias de família, e a temperatura (treinar essencialmente no verão em Portugal nem sempre é uma tarefa fácil de realizar). Mas com a ajuda dos astros tudo se conjugou.

Corrida WeRun - A primeira prova no plano de treino
Como é normal em tantos km’s de treino (foram 1037km em mais de 94h) houve momentos fantásticos e outros menos bons. Mas como diz um amigo meu “… faz parte”. Mas o melhor de tudo é que a maior parte das passadas foram feitas na companhia de amigos, amigos que chegam pela corrida, mas que ficam por tudo o resto. E mesmo quando corri sozinho os corredores e os menos corredores lá estiveram ajudando-me a cada minuto.

Um bom treino com o Paulo e o Duarte
O treino correu quase sem percalços. Exceção feita ao dia 24 de setembro, quando num treino de séries (10x800mts) no início da nona série o meu adutor da perna direita deu de si… uma micro rutura obrigou-me a estar parado durante uma semana. Foi um pequeno susto. Depois os treinos recomeçam ligeiros e tudo se recompôs. 


fotos do ultimo longão (35km) que não fiz devido à lesão
Esta micro lesão teve o condão de aumentar o tempo tapering de 3 para 4 semanas o que no final até foi bom (o tempo de paragem, ou diminuição da carga, deixa sempre ansiosos os maratoneiros – pois peçam que os km’s que realizaram não são suficientes).


Antes da prova

O último treino foi feito na quarta-feira antes da prova, um feito a solo nas imediações de casa a ritmo de recuperação onde me senti muito pesado, o que também é normal, mas que provoca uma sensação desconfortável e logo nos leva a questionar “como eu vou consegui fazer a Maratona no domingo?”

Tirei uns dias de férias pois queria conhecer a cidade. Partimos na sexta-feira de madrugada (5h – como custou)- Aproveitamos o dia para ir à feira da Maratona levantar os dorsais visitar um museu e começar a fazer o “enchimento“ de hidratos de carbono. Coitada da Carmen no sábado já não podia ver mais Italian food.

Na feira da Maratona
No sábado tínhamos planeado levantar cedo para visitar o museu Van Gogh, almoçar e fazer uma viagem de barco pelos canais à tarde, de modo que me permitisse ver a cidade e ao mesmo tempo não
esforçasse demasiado as minhas pernas.


Autoretrato de Van Gogh
O museu foi um excelente programa que demorou toda a manhã. Depois lá fomos para uma rua cheia de restaurantes italianos cumprir mais uma fase do enchimento. Estava eu já na fase de inicial de lubrificação vinícola quando se senta ao nosso lado um casal… quando olho para o lado… como… estou a ver bem? O meu amigo Pedro estava sentado ao meu lado. Uauuuu...... que surpresa fantástica. Ele e a Paula tinham vindo de propósito de Lisboa. O Pedro iria correr comigo parte da prova. Nunca suspeitei da surpresa… já tinha valido a pena vir a Amesterdão fazer Maratona.


Equipa Amesterdão
Fosse qual fosse o resultado já tinha tido o meu presente… já estava relaxado. O resto da tarde foi muito boa… e também planeamos a prova. O Pedro encontrar-se-ia comigo aos 10km’s e iria comigo até onde as pernas lhe permitissem (ao fim pensei eu… pois este homem mesmo com pouco treino tem pernas para mim  :)  ).
Agora tinha que descansar… mas antes disso a foto de praxe na noite anterior.


 
Pronto para a prova

Prova

A prova começava às 9h30 estando hospedado a 15 minutos (tempo de caminha) do local de partida. Acordei às 7h30, para um pequeno-almoço ligeiro e sai de casa pelas 8h30. Numa caminhada tranquila aos poucos e poucos, de todo o lado, foram aparecendo os meus “adversários”, a temperatura estava fresca (7ºC) mas tolerável pois não havia vento. O drop off das roupas foi muito fácil e extremamente organizado. Tinha combinado encontrar-me, nesta zona, com o meu amigo Pedro Oliveira (com quem tantos treinos/provas fiz no passado) que estava também em Amesterdão para fazer de lebre, mas não conseguimos. Fiquei triste, mas pensei que mais à frente talvez o encontrasse. Às 9h rumei em direção ao interior do estádio. Um ambiente muito bom.


Drop-off das roupas
Quando fui para a minha baia (a cor de rosa – corredores entre 3h e 3h30) começou a chover miudinho, e assim ficou o resto da prova, como seria de esperar encontrei logo um grupo de portugueses (na prova da maratona terminaram 66 atletas portugueses).


Eu estava a cerca 150 metros da meta, quando a partida foi dada fui caminhando até 50 metros da mesma e a partir dai comecei a correr logo ao ritmo que desejava. De todas as maratonas que fiz esta foi aquela onde nunca senti que ninguém me estava a atrapalhar nem vice-versa.

A minha partida

Nos dias que antecederam a prova elaborei um plano de ritmos que me ajudasse a orientar a prova. O plano tinha duas visões. Na primeira faria toda a prova a ritmo regular de 5:13/km e o segundo a um ritmo irregular. Sei por experiência que normalmente o meu ritmo é irregular e tem um split positivo, ou seja, faço a primeira meia-maratona mais rápida do que a segunda.
tempos de passagem planeados para a prova
Aproveitando a “boleia” dos portugueses parti ligeiramente rápido. Os primeiros 5km foram muito fáceis e a passagem a ritmo regular de 5:02/km fez com que ficasse com 31s de avanço ao previsto. Os dois pontos altos desta parte do percurso foram a passagem pelo Vondelpark, o maior parque publico de Amesterdão com 48 hectares cheio de árvores, lagos, caminhos e campos de jogos e por dentro do Rijksmuseum, a famosa passagem que liga o centro da cidade com o sul de Amesterdão.


Vondelpark

Rijksmuseum
Fiz quase todos os primeiros 10 km com um Português de Guimarães (o Ernesto) em amena cavaqueira. Passei aos 10km em 49:50 com 1:30s de avanço em relação ao previsto. A partir do abastecimento comecei à procura do Pedro. De repente, na Churchillan (km 11), lá estava ele e o resto da minha claque (a Paula e a Carmen). Fiquei muito feliz. A partir daqui continuei com o Ernesto ao meu lado e dando conta ao Pedro de como tinha sido os primeiros km’s. Tudo estava bem.


A partir daqui fomos em direção ao rio Amstel. Esta parte rural do percurso, com cerca de 12km, tem uma esplêndida vista panorâmica com muitas belas mansões e antigos moinhos de vento. O rio estava cheio de atividades. Por volta do Km 15 o meu companheiro de partida continuou a um ritmo mais rápido do que eu poderia ir... então comecei a resguardar-me. Ao km 15 ia com 2:02 acima do inicialmente previsto. E lá continuamos bem-dispostos gozando as vistas do percurso rural. Passamos à meia-maratona em 1:45:29 bem acima do inicialmente previsto (2:16).

Quando saímos da zona do rio (por volta do km 25) encontramos novamente a minha claque da qual recebi um novo folego. Agora sim.. a corrida começava. Sabia que os 2:41s ganhos até aqui seriam essenciais para o resto do percurso onde de certeza entraria em perca maior do que aquela prevista no meu plano. Mesmo assim o pico de tempo gando em relação ao previsto deu-se ao km 33 onde atingi 3:00 de avanço. A partir daí comecei em queda e nos últimos km’s perdi cerca de 45s.

A partir desta zona começou o verdadeiro trabalho da lebre começou... falava de tudo o que se lembrava para não me deixar concentrar no desconforto da dor. Até ao km 40 não cai muito.

Um pouco antes deste ponto encontrei o meu amigo Pedro Oliveira, que tanto procurei à partida. Foi o meu ultimo doping. Foi com alegria imensa que me detive uns segundos a abraça-lo. Bem-ditos segundos.



O encontro com o Pedro Oliveira
 A partir de mais ou menos os 39km's entramos novamente Vondelpark e lá ficamos durante 2,5km. As pernas estavam horrivelmente pesadas. A vontade já era pequena e o Pedro lá continuava dando o seu melhor. Ao sair do parque eu sabia que os mínimos já cá cantavam agora era só rolar como pudesse.

Os últimos metros
À entrada do estádio e quando faltavam só 500metros lá estava a minha claque era o que eu precisava para completar os últimos metros. Ainda antes de cortar a meta passei por uma atleta francesa completamente aos ziguezagues fez alguma impressão mas nem consegui olhar para trás e lá fui eu completamente concentrado. CORTEI A META. De seguida foi um momentâneo descarregar de emoções. Estava cansado, consegui terminar em 3:37:45, Boston Time – talvez ainda não suficiente para estar presente em Boston em 2017, mas muito moralizador.

Cortar a meta
Todo processo para esta maratona teve o condão de me relembrar que não são as maratonas e os tempos o mais importante, mas sim tudo o que o rodeia. O antes, o depois… e fundamental os amigos e companheiros que encontramos em todo este processo. Como diz o poeta:

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis!”
Fernando Pessoa