(note: section In English below)
--
Quase 2 semanas depois, aqui vai o meu testemunho da aventura de Berlim 2008, bem como umas imagens "emprestadas" (enquanto não vem o CD com as compradas)... Depois da descrição "científica" do evento por parte do nosso Presidente, com a qual me identifico totalmente, resta-me partilhar algo da minha corrida pessoal. Até porque depois dos vários avisos que fiz, de que não estava em condição física para recorde pessoal (baixar das 3h00), sinto-me algo "culpado" por ter de facto batido esta marca... Marca que, como já escrevi, não tem em si mesma nada de especial, mas todos gostamos do simbolismo de metas "redondas". Mas antes de mais os dados "em bruto":
--
10 km 00:42:00
half 01:28:04
final time total (chip) 02:57:08
average pace 4:12
total place (M/W) 1019
place (age) 224
place (total) 1054
half 01:28:04
final time total (chip) 02:57:08
average pace 4:12
total place (M/W) 1019
place (age) 224
place (total) 1054
--
Sinto-me "culpado" porque não sou homem de fazer bluffs (ou "dar tangas", em bom Português!!) e estava mesmo convencido que o corpo não estava em condições. As razões? Na semana após o último longão (a 3 semanas) tive uma dor na virilha que me impediu de correr (e que praticamente me impedia de andar sem dores) toda a semana. Com anti-inflamatórios desde Quarta-feira, lá consegui correr no Domingo seguinte (20km), a um ritmo razoável mas pesado e algo cansado, ou seja, como alguém que já não corre há uma semana! Nesse Domingo, depois dos 20km, resolvemos dar banho frio às pernas na água do Guincho. Eu estava particularmente interessado em refrescar a cintura, com medo que a corrida piorasse muito o problema muscular (bursite do psoas ilíaco, segundo o melhor diagnóstico). Má ideia! O frio da água e o arrefecimento rápido da corrida com o vento do dia ditaram uma constipação forte, se não mesmo uma bronquite. Depois de 1-2 dias de febre, andei a tossir, cansado e com falta de ar mais 7-8 dias. Cada vez que me sentia melhor, corria um pouco mas o oxigénio decididamente não chegava ao sangue (e por consequência, às pernas) a uma taxa aceitável... Uma sensação muito estranha: Sabia-me na minha melhor forma de sempre (tanto na capacidade de transportar O2 ao músculo como ao nível celular no músculo, na capacidade de o utilizar) mas sentia-me fraquíssmo... lembro-me de subir as escadas da Faculdade para o parque de estacionamento e ficar cansado, com falta de ar! Treinar era virtualmente impossível. Para cúmulo, no meio de tudo isto, tive uma "crise colo-rectal" (para usar um "asséptico" termo técnico), daquelas que tornam a posição de sentado numa agradável... chatice! Houve um certo dia em que 1) não podia correr (constipação), 2) doía-me a virilha a andar (a bursite de facto doía mais a andar que a correr) e 3) estar sentado era um martírio... Foi o dia do tapering total! Fiquei em casa deitadinho de lado uma boa parte do dia, a editar o meu próximo livro (já agora, publicidade porque não, o mais recente pode ser visto e comprado aqui). A coisa rendeu!
Bom, chega de tragédia, mas sinto que devia esta explicação aos parceiros GAFEs. Tentei obviamente manter-me positivo e pensar que o treino e as suas adaptações fisiológicas estavam adquiridas. Mas foi difícil. Sinceramente, pensei que o descanso forçado em demasia e as mazelas da inflamação nos pulmões não permitiriam "activar" a condição física a tempo. Sentia-me em tudo menos em boa forma e muitos dias a sentir-nos doentes (que estava de facto) minam imenso a confiança, mesmo de quem estava bastante positivo como eu. Na última semana, a situação melhorou um pouco e na Quarta lá consegui correr 8km com o Carlos. Corri a ritmo de maratona (corri "de raiva", para provar a mim mesmo que conseguia), mas acabei esgotado e pesadíssimo. E passados dois dias, com os pulmões um pouco melhores, a virilha menos mal, e o resto mais mal que bem (mas não seria isto que me impediria de bater o meu recorde, porra!), lá fui para Berlim com os meus dois comparsas!
Claro que o dilema se colocava. Nestas condições, uma tentativa falhada (o resultado mais provável, a meu ver) mas levada até ao limite significaria ficar com as pernas num oito e imenso tempo de descanso posterior, perdendo-se por certo o resultado dos 3 meses de treino. Seria a pior consequência. Por outro lado, uma prova tranquila com o Carlos e Luís garantiria uma recuperação rápida (se não agravasse nada) e manteria a possibilidade de nova tentativa em breve. Seria um longão em Berlim...! Mas..., ir a Berlim, percurso de recordes, com tanta expectativa, com condições climatéricas óptimas, depois deste treino todo... para fazer um longão... Sem sequer tentar??! Não podia ser. Não me sentia bem... Por feitio, gosto de arriscar, prefiro não jogar à defesa e depois arcar com as consequências. Prefiro quase sempre experimentar a pensar como seria se... E depois de reflectir com os parceiros (na verdade, refectir com o Carlos, pois o Luís queria apostar comigo à força que eu fazia 2:55...!), apontei para uma solução de compromisso: tentar ir até à meia a ritmo de recorde (abaixo de 4:15), ver como me sentia... e aí decidir se fazia um treino ou uma prova para recorde. E assim seria.
No Sábado de manhã ainda fomos, eu e o Carlos, fazer 2-3 km mas o teste não correu bem. Pesado, cansado, em esforço para aumentar o ritmo. Mas aqui não me deixei "intimidar", pois a experiência de outras maratonas ensinou-me que o excesso de carbohidratos (muito glicogénio a ser produzido e armazenado no músculo) e o descanso "forçado" do tapering muitas vezes resultas numa "falsa" sensação de cansaço e pernas pesadas, que desaparece rapidamente em prova, com a estimulação adrenérgica (catecolaminas [como a adrenalina] em alta, devido à elevada prontidão psicológica) e com a corrida continuada durante alguns kms. Mas confesso que a confiança era baixa até ao tiro de partida. Na realidade, nos sprints de aquecimento havia sentido alguma "leveza", pela primeira em várias semanas. Mas ainda assim acreditava, naqueles segundos antes da partida em que estamos completamente "sozinhos", mesmo se apertados por milhares de pessoas (sozinhos com os nossos sonhos e expectativas, sozinhos com o nosso tão frágil corpo, e sozinhos com a nossa confiança - ou falta dela - que vamos mesmo conseguir chegar ao fim de todos aqueles kms...)... dizia, acreditava que antes mesmo dos 10km abrandaria e esperaria pelos comparsas para com eles gozar a prova. Mas assim não seria.
Após alguns kms, senti-me relativamente fresco e, depois de alguma hesitação quanto ao passo certo, percebi que conseguia manter o passo de 4:10 (mais ou menos alguns segundos) com alguma facilidade. Isto durou praticamente toda a prova. Antes da meia, deixei o pacer das 3h10 e o respetivo balão para trás. E pelos 33-35 km, ainda ao mesmo ritmo, percebi que provavelmente bateria mesmo as 3h, com uma mistura de satisfação e de algum receio que algo acontecesse... já estava tão perto. Mas, segundo o meu relógio mágico (só lhe falta fazer massagens e dizer-me que sou o maior da minha rua!), ia com 2-3 minutos de avanço e mesmo que tivesse câimbras (tinha medo pois corria com ténis de competição e os gémeos estavam a ficar tensos), poderia facilmente parar 1 minuto, esticar os gémeos, e continuar. Não foi necessário. Os últimos 3-4 km foram duros (4:20-4:25) mas nos últimos minutos, já com as portas de Brandemburgo à vista, foi possível voltar a acelerar. Ainda tentei bater as 3:57 mas de pouco valeu. A meta nunca mais chegava... Mas lá chegou e foi boa a sensação de a cruzar. Lembro-me de soltar um dasabafo sonoro, a alto e bom som! Curiosamente, no video do final da prova, ouve-se bem a minha voz...! Disponível "num computador perto de si" nesteURL:
(incrível a quantidade de pessoas a acabar ao meu lado... não me apercebi de todo, no momento)
Em retrospectiva, embora tenha andado a um bom ritmo, sei (sinto, mais do que sei) que com umas 3 últimas semanas sem problemas poderia ter andado um pouco mais depressa. No meio da prova, a olhar para o ritmo e forma dos meus "colegas de 3h" pensei várias que tenho pernas para mais... Mas também sei que isso poderia ter dado mais resultado, como tantas vezes acontece. O nosso amigo "muro" está sempre à espreita... Por isso estou contente com a prova, que encerra este capítulo e abre outros, que partilharei um destes dias. Mas que passa, claro, por terminar as 5 majors... Já só faltam duas.
Relativamente à prova, um reparo apenas aos elogios por parte do Carlos, que se esqueceu de elogiar o site. Do melhor que já vi. Fui lá agora e nos resultados (depois de colocar o meu nome) tem um link directo para as minhas fotos (basta crescentar Teixeira a este link http://www.marathonfoto.com/index.cfm?RaceOID=05912008M1&BibNumber=28882&Language=en), outro para gerar o certificado e ainda (e isto nunca tinha visto) um link para o video das minhas passagens à meia, aos 35km e no final (em cima). Super eficiente e fácil.
Mais um abraço aos colegas da GAFE, pelo apoio discreto mas presente à preparação dos Berlinenses. E um especial aos dois que me fizeram companhia, pela camaradagem e boa disposição, por me deixarem ficar com a melhor cama no hotel, pelo incentivo constante e por comigo terem inventado um novo termo: depois do "Kunami" de Roma, foi agora a hora do "Maratoneiro"! Nome que aplicávamos aos participantes na prova que nos dias anteriores eram detectados no Metro de Berlin, identificados pelos ténis, pela magreza corporal e aspecto saudável e por aquele ar inconfundível de quem - pais e avós, desempregados e executivos, ex-atletas e claramente "nunca-atletas" (!)... todos iguais - está ali para escapar por alguns dias à rotina da sua vida e saborear uns momentos claramente extra-ordinários. Naqueles perto de 40,000 corredores há uma enorme diversidade. Mas no período que vai das 2h e 3 minutos depois do tiro de partida até às 6 horas depois do mesmo tiro, sentem-se de certeza mais perto de si mesmos e também mais perto dos outros todos os que cortam aquela mesma meta (e também os que não cortam, como os que vi a caminhar com lágrimas nos olhos, a vomitar na berma do passeio, ou a ser socorridos). Mais perto de si e mais perto dos outros, é a sorte de todos aqueles Maratoneiros por um dia. Um dia que vale por muitos.
--
--
Pedro T.
[a note I send some friends, a few hours after the race]
As Gebrasilassie said in the end today , it was a perfect marathon day. The course was (is) excellent, the temperature was perfect (10 to 15 C but sunny), no wind, and lots of support (although London was much better in this regard). Besides some bridges, somehow the course just seems to have downhills when you run it, but not uphills (although it’s a loop course so that’s impossible!). I cannot remember a single uphill…!
--
--
As to performance… I was really surprised… by my own body! Yesterday I decided I was going to give it a shot (heck, after all the training, I had to try), but honestly my confidence that my body would be fit enough was quite low, considering all the signs my body has been giving me lately. But this morning was chilly and that kind of spurred me on, and I felt better than usual. We started 10m from the font (we cheated a bit but we were late…) which was good. Right there I said goodbye to Carlos and Luis and for the first 4-5km I was sluggish and thought I would just feel like slowing down soon and wait for them (that was the arrangement if I didn’t feel good, and that way save my legs for another race later this year). But I didn’t feel bad! I quickly got into a steady 4:10 pace, which felt very easy and basically I stayed there all race long. Never really felt strong and light, but always managed to keep that pace alright. I averaged below 4:12 pace. I used my light racing shoes (not the Brooks), which helped too. I was afraid towards the end that my calves cramped but they never did. In any case, I could have taken some time to stretch if I needed to. Didn’t need to. After 33-34km (the “make it or break it point”) I still felt OK (not great but OK) and knew I would probably beat three hours since I was 3 minutes ahead of pace, so I got excited and that kept me going until the end. The finishing was exciting, and difficult as they always are, as I sprinted to beat 2:57. Almost did (8 seconds past)… Overall, it was hard in the last 5-6 km but never too bad. I felt that with company or with a “pushier” crowd or if I needed it for some reason, I could still have accelerated. Not easily but I could have. So the lesson here is that once some (good) training is in, 2-3 weeks of (very) poor condition, including a persistent cold, will not affect it all that much. The funny thing is that I went for a morning jog yesterday and fell awful. Sluggish, heavy legs, slow, tired. I guess the competitive “juices” always mean an extra edge and today they were enough. I think the best part of the training were the track workouts. They allowed me to get efficient (thus saving energy to the end…and glycogen probably) and feel very comfortable at a fast pace, even when my overall “sharpness” was clearly not ideal. Perhaps with a better last month I could have done really well today... In any case, I don’t think I will ever train like this again. So 2:57 will probably stand as my record. Carlos, my friend and “training camp” partner also broke his record, and by 7 minutes (3:23!) and confirmed his Boston time of 3:30, achieved late last year. And Luis, who didn’t prepare very well (injuries) ran the first half with Carlos (1:40) and then “sprinted” the second half and still made Boston time with 3:13 (his PB by just a few seconds). So overall this marathon was a success. This course really helps people get PBs… And World Records!
2 comentários:
Bela descrição!
Para quem se vai estrear na distância, as ideias que transmite são muito importantes e constituirão, estou certo, uma grande ajuda para este fim de preparação e para a prova em si.
um abraço
MPaiva
Feel good......
Enviar um comentário