A Maratona de Berlim para a GAFE, e em particular para mim, foi um completo êxito. Se tivesse que classificar esta prova que é uma das 5 Majors do circuito Internacional de Maratonas de forma resumida e ao estilo da Marathon Guide (escala de 0-5) faria assim:
Corrida - 5
Organização - 4,5
Publico - 4
E lógica que esta classificação é influenciada pela minha "vasta experiência internacional" nomeadamente pela presença recente na Maratona de Londres.
ORGANIZAÇÃO
Como seria de esperar o nível de organização, da Maratona de Berlim, é muito elevado tendo em conta que tem que lidar com cerca de 40000 participantes na prova da Maratona, mais de 10000 nas outras provas, com muito mais acompanhantes e publico em geral. Mas para quem já correu a Maratona de Londres existem diferenças muito grandes entre estas duas provas. Começando pela feira que é boa com muita coisa mas um pouco confusa. Já a localização da partida é excelente. Os transportes para a partida (comboio e metro) vão todos ter à mesma estação com uma frequência espectacular o que faz com que não haja grandes confusões na estação. É importante referir que a rede de transportes em Berlim é muito boa com transportes rápidos e relativamente baratos (no caso da GAFE ainda mais barato são pois compramos um bilhete no primeiro dia que teve o condão de servir para toda a nossa estadia é FANTÁSTICO, ou melhor, o milagre da multiplicação dos bilhetes).
Apesar do local aonde os atletas esperam a partida ser muito grande (não tão grande quanto Londres) não se vive o ambiente fantástico com que fui presenteado na capital da Grã-bretanha onde tudo estava a 100%.
O local de partida (os currais por tempos) estão um pouco distantes o que provocou que a GAFE tivesse de fazer um aquecimento mais forte e durante mais de 5 minutos em direcção à partida. Como não sabíamos que demorava tanto tempo a chegar ao nosso curral (E) partimos em sua direcção um pouco atrasados (nós e muitos atletas) este atraso provocou confusão à entrada dos currais. Esta foi-nos benéfica pois entrarmos (não sei bem como) logo no curral (A) muito perto das grandes vedetas esperando menos de 5 minutos pela partida.
Os abastecimentos são muitos e variados (mais ou menos de 2,5km umas vezes antes dessa marca outras vezes depois o que provoca alguma confusão no planeamento dos abastecimentos sólidos que levamos ), mas feitos em copos de plástico o que torna a hidratação uma tarefa complicada (como diz o Pedro Teixeira "a água estava sempre a saltar para os olhos"). No meu caso nos reabastecimentos perdi muito tempo abrandando muito o ritmo.
Quanto ao público apesar de muito (essencialmente acompanhantes) não é tanto nem tão caloroso quando comparado com Londres. Mas se compramos com as corridas em Portugal é extraordinário. A única coisa desagradável é que a maior parte está sempre gritar denmark.
O percurso apesar de não ser muito bonito é um circuito que dá uma grande volta pela cidade nunca passando na mesma zona. É quase plano havendo até quem diga que apesar de ser em circuito é sempre a descer, o que não é verdade como se prova pelo declive obtido no meu polar. Há zonas (por volta dos 26km) com subidas pouco inclinadas (0,6%) mas durante muitos metros (2000).
Corrida
Partida!!, Largada!!, FUGIDA!!...
Passemos então é descrição da prova e como esta me correu. Depois dos tradicionais cumprimentos onde o PT reforçou a sua intenção de ir tentar baixar da barreira das 3h e para eu me colocar à direita a partir da meia pois se ele achasse que não conseguia atingir o seu objectivo ira esperar-me a partir da meia.
Mas partir da porta (A) é outra coisa (devíamos estar a 50 metros de Haile Gebreselassie). A partir do momento que foi dada a partida até quase ao fim da prova passei o tempo a ser ultrapassado por verdadeiros atletas que provocavam uma ventania lixada quando passavam.
E lá vamos todos. A partida não é nada confusa pois a avenida é muito grande em largura e em extensão o que permite que comecemos logo ao nosso ritmo. O Pedro obviamente "basou" rapidamente e lá fomos nós os dois a bom ritmo (claro para mim). O Luis armou-se em Pedro Oliveira e durante o período em que me acompanhou foi duas vezes aliviar a sua bexiga. Os nossos primeiros 5km foram feitos ao bom ritmo de 4:42/km. Apesar de ir a ritmo mais elevado do que inicialmente previsto não fiquei preocupado pois estava muito bem sentido mesmo assim ia a "a travar".
Os segundos 5Km formam concluídos mais ou menos ao mesmo ritmo (4:46), no fim dos quais me assustei, um pouco, pois comecei a ter algumas dores no adutor da perna direita dores que se prolongaram mais ou menos até final do 15km. Mesmo assim não baixei o ritmo e consegui fazer a terceira légua em 4:45 mas a partir daqui comecei a sentir as pernas um pouco pesadas o que se acentuou na légua seguinte (4:46) onde comecei a sentir grande dificuldade em ganhar ritmo após os abastecimentos pois demorava muito tempo a recuperar até junto do Luis que por vezes teve que diminuir o ritmo para eu recolar.
Após a meia maratona, que foi percorrida em 1h40m13s, deu-se o abandono da minha lebre (neste caso o Luis partiu para frente e fez uma segunda meia simplesmente fabulosa). Quando o Luis partiu tomei a decisão, certa, de diminuir o ritmo para tentar fazer uma segunda meia sem grandes desfalecimentos. Assim entre os 20 e 25km gastei 4:52 depois continuei a manter mais ou menos o ritmo nas léguas seguintes 4:55 e 4:53. Depois do "muro" baixei ainda mais o ritmo (4:59) a máquina estava no limite. No segmento final (2195 metros) chamei as minhas forças finais (há quem diga que eu não sei o que é isso) e consegui recuperar um pouco o ritmo (4:53) conseguindo terminar num tempo fabuloso, para mim, um resultado "quase ao nível do sonho" 3h23:47s (ritmo final de 4:49,8).
Pela primeira vez num final de uma prova fui sujeito a algo muito muito estranho. Apesar de estar extremamente feliz sentia uma vontade enorme de chorar, ainda agora quando estou a escrever estas palavras revejo o que na altura senti. Não sei explicar a razão do que me sucedeu pois normalmente não sou dado a dar muita importância aos meus "feitos" mas nesta prova a emocão bateu forte.
Ainda bem...
Depois de ultrapassado este momento "infindável" foi caminhar para junto dos "meus" para dividir a alegria e saber novidades tentando ingerir alguns líquidos pois o meu último abastecimento tinha sido aos 35km. A sede era tanta que até bebi RedBul.
Ao chegar junto deles a felicidade ainda foi maior pois o Pedro e o Luis tinham conseguido os seus objectivos. O Luis tinha feito, de forma surpreendente, uma segunda meia canhão e consegui fazer Boston time e bater o seu record pessoal (este menino se treinar bem vale abaixo das 3h na maratona) e o meu companheiro de centro de treino depois de duas semanas desastrosas cheias de percalços baixou das 3h. Como eu previa (ufa!) o tapering Carlos Lopes resultou. FANTÁSTICO. FELICIDADE TOTAL.
Com o nosso saquinho de comida brindamos um sol magnífico (só ele conseguia competir com a nossa felicidade) e gozámos o ambiente do final de festa este sim muito superior aquele vivido em Londres (chuva maldita). Ainda vimos (no ecrã gigante) um resumo da extraordinária prova do novo recordista do mudo. Fiquei contente até o Gebreselassie chegou cansado.
Fiquemos por aqui que o relato já vai longo e senão ainda pago coima por escrever demais. Mais aventuras seguem-se nos próximos capítulos.
2 comentários:
Bela descrição da prova. Brevemente irei fazer a minha estreia na Maratona (26/10, no Porto) e estes gráficos e estas impressões serão muito importantes para ir comparando com o que for sentindo ao longo da minha prova. Veremos como me vou sair...
só falta a foto da medalha!
:D
parabéns mais uma vez!
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