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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Maratona de Hamburgo

Antes de tudo

Há dias assim… na véspera adormecemos com dificuldade (com a cabeça cheia de coisas) e de manhã acordamos sem vontade nenhuma de corrermos.
No domingo passado (17/4/2016) foi um dia desses. Quando acordei o que mais me apetecia era ficar no meu casulo… isolado de tudo e de todos.  Mas não podia ser.  Desistir? Depois de 91horas de treino realizadas durante 20 semanas onde percorri mais de 1000km. Nem pensar nisso é bom.

Um dos últimos treinos com parte da equipa IRun e com doping.
Resolvi que o melhor era não me dar importância e “fazer-me a vida”. O plano tinha sido delineado de véspera em conselho IRun.  Eu e o Tiago iríamos para a partida, o Pedro iria com a nossa claque (munidos com a bandeira oficial de Portugal) para o km 12 e de lá partiria como lebre do Tiago. Depois descansaria uns minutos, em local a decidir mais tarde (desde que as nossas incansáveis apoiantes estivesse lá), e continuaria comigo, a ritmo mais descansado.
O Tiago no dia antes da prova tentou por todos os meios dar cabo da possível concorrência.

Na véspera foi montado no nosso apartamento uma autentico gabinete de apoio ao atleta.

Eu na véspera pedi a todos os deuses uma boa prova. Até ao BUDA de lá de casa.
Até à partida
Um pequeno almoço simples preparou-nos para o que aí viria. Resolvemos sair de casa cerca das 8h pois a partida seria dada às 9h. O local de partida ficava a menos de 1000 metros do apartamento onde estivemos durante o fim de semana.  Quando saímos de quentinho da habitação ficámos assustados, pois estava muito desagradável. A conjugação de temperatura baixa (6ºC) com o vento estava a furar-nos os planos de correr de calções e camisola IRun de manga curta

O local da partida estava muito bem organizado. A ideia de colocar a entrega dos sacos de roupa dentro de um pavilhão é fantástica, pois ajuda-nos a tirar as camadas de roupa paulatinamente e esperar, ao quentinho, que a hora de partida chegue. Quinze minutos antes das 9h seguimos para a nossa entrada (E). Não foi fácil lá chegar, pois a multidão andava devagar. Mas tinha as suas vantagens pois o aglomerado de pessoas protegia-nos do vento e do frio, afinal íamos equipados conforme as regras dos IRun’s (eu só acrescentei umas luvas - ao jeito do João Alves para dar estilo).

Chegamos ao nosso bloco de partida just in time, deveriam faltar 3 ou 4 minutos para a ordem de marcha. Dois minutos depois do “tiro” oficial de partida começou a nossa prova. Agora era só “Follow de Blue line” (Uma curiosidade dessa corrida é que foi a primeira maratona a pintar a “blue line” no percurso, em 1986).

Os primeiros km’s
Passado poucos minutos de prova o Tiago foi à sua vida… para atingir os mínimos de Boston ele teria de fazer menos de 3h25 e para estar 100% seguro da sua entrada menos de 3h20. Eu, durante cerca de 1km ainda o fui vendo ao longe… depois passou a ser uma miragem por quem “fiz figas” durante todo o percurso.

Parida da Maratona de Hamburgo em conformidade com as regras IRun (os primeiros 5 metros só eu posso ir à frente)
O meu objetivo era melhorar os mínimos obtidos em Amesterdão (3:37:45) que eram curtos para conseguir atingir a almejada entrada em Boston. Por isso, como o Tiago, achei que o melhor seria fazer pelo menos 5 minutos (3:35:00).

Apesar de não estar em modo “transcender-me” lá fui eu. Para os primeiros 5km tinha planeado fazer a média de 5:08/km. Em modo “distração” (dei muitos Hi5 as crianças) fiz de forma tranquila 5:02/km de média. Foram os únicos km’s que fiz abaixo do planeado. Mais ou menos por essa altura bateu-me a forte a vontade de não continuar. Não estava com determinação, sentia-me com o estômago cheio, o peito do pé começou a doer, a passada não estava solta e o moral estava num nível muito baixo.

SOCORRO tirem-se daqui… 

Com este quadro os 3:35:00 passaram a ser uma autêntica miragem. Ponderei, por várias vezes, em desistir. Quando chegasse junto à equipa de apoio (12km) agarraria nas minhas coisas e ia para casa. Mais uma vez concentrei me nos Hi5 e no apoio constante dos espetadores sorridentes. O moral foi subindo.

Até aos 31
Quando cheguei aos 12 km’s lá estava a Patrícia e a Carmen com a bandeira dos tugas. Por essa altura já tinha na cabeça que iria fazer mais uns km’s pelo menos até à próxima zona de apoio. O apoio dado ajudou-me a pensar que talvez com calma conseguisse terminar. E quem sabe... se não conseguiria ainda atingir o objetivo. Vendo bem as coisas não estava atrasado, bem pelo contrário. No planeado deveria passar aos 10km, se fosse a um ritmo regular, em 50:57 e em 50:40 se fosse a um ritmo irregular. Eu passei mais rápido em 50:23, mas claro com o moral em baixo.
A bandeira e a claque. Um dos meus antídotos contra a desistência durante este dia
Dos 10 aos 15 km ainda me aguentei passei com 1:15:30. Por esta altura o peito do pé começava a doer consideravelmente, mas como numa maratona dores é coisa que sempre existe resolvi “dar desprezo” às ditas cujas. Para “aumentar a minha dor moral” a equipa de suporte não consegui chegar a tempo de nos ver ao km 16 (nem mais tarde ao km 25). No, entretanto, o cansaço físico começava a chegar, passei à meia-maratona em 1:46:38, cerca de um minuto mais lento do que estava inicialmente planeado.

Daqui para a frente à queda começou a produzir-se de forma mais drástica. Aos 30 km tinha um pouco mais de 2 minutos de atraso (2:32:43). Já só pensava no Pedro, na Carmem, na Patrícia e na bandeira. Já devia estar quase lá…

Em companhia do Pedro
Mais do que alguém que me puxasse eu estava a necessitar do meu amigo e companheiro de aventuras que me desse os mimos da sua presença. Quando aos 32km o vi, em conjunto com a nossa equipa de apoio, não parei, nem me desviei para dar um oi (fisicamente já não conseguia) mas por dentro houve uma explosão de alegria. Deu-se um reboot… até pareceu que as minhas pernas começaram a andar mais depressa.

O começo do reboot.
Nos primeiros km’s, com o Pedro, pus a “conversa em dia”. A minha preocupação principal era saber do Tiago. Aparentemente tudo ia bem. Bem melhor do que inicialmente planeado. A perspetiva de sucesso do Tiago ajudou-me a tornar os km’s seguintes “mais fáceis”. Quando cheguei aos 35km, em 2:58:48, fiz umas contas por alto e verifiquei que se me aguentasse até ao fim a uma média de 5:30/km deveria terminar a prova entre o minuto 38 e 39. Fraco, mas não tão mal como eu achava que ia ser. Iria ficar novamente na zona de mínimos para Boston. Mas, como era pior que em Amesterdão não serviriam para nada.


As novidades contadas pelo Pedro aos 32km
E lá fomos os dois, eu tentado controlar a minha performance para não sair fora da previsão anterior. Por volta do km 38 deu-me um clique e disse para comigo “…não pode ser há que pelo menos fazer um esforço para as coisas serem um pouco melhores...”. O resultado foi que durante 1,5km andei mais rápido (5:08/km). Mas foi sol de pouca dura. Rapidamente voltei ao regime anterior. Mas valeu a pena, pois ganhei segundos preciosos e mantive-me um pouco melhor do que planeado à uns quilómetros atrás. O resultado deste forcing final foi conseguir cortar a meta em 3:37:21, vinte e quatro segundos melhor do que em Amesterdão. O que apesar, de ser dois minutos e vinte e dois segundos pior do que eu queria foi muito bom dado as circunstâncias. Este tempo fica unicamente a dever-se a pura teimosia. Mas na verdade senti que hoje dificilmente podia ser melhor.

Para terminar
Em jeito de conclusão poder-vos-ei dizer que como as outras provas só ter vindo Hamburgo já valeu a pena. O melhor do fim de semana foi estar junto de amigos que ajudaram a dar o colorido a esta minha 24ª Maratona de estrada e o Tiago ter feito um tempo canhão (3:17:43) que lhe abre as portas a estar em Boston em abril de 2017.

A próxima? A 25ªMaratona?

Já estou inscrito a partir de hoje… 9 de Outubro de 2016