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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

...em que penso enquanto corro

“...Perguntam-me muitas vezes em que penso enquanto corro. Regra geral, as pessoas que fazem esta pergunta nunca participaram em corridas de fundo. A pergunta dá-me sempre pano para mangas. Vendo bem, em que penso eu, exactamente, enquanto corro? Para dizer a verdade, não tenho a mínima ideia. Nos dias frios, devo pensar vagamente no frio que faz, e nos dias quentes, a mesma coisa, com a diferença, calculo, de os meus pensamentos incidirem sobre 0 'calor. Quando me sinto triste, penso um bocadinho na tristeza. Quando estou contente, penso mais ou menos na felicidade. Também sou muitas vezes assaltado, como disse antes, por acontecimentos do passado, sem nenhuma ordem lógica E acontece, uma ou outra ocasião (muito raramente, confesso), encontrar uma pista que poderei vir a utilizar num romance. Na realidade, quando corro não costumo pensar em nada que mereça a pena ser referido. Corro, só isso. Corro no vazio. Dito de outro modo: corro para atingir 0 vazio. No entanto, há sempre um pensamento ou outro que acaba por se introduzir nesse vazio. O espírito humano não pode ser um vazio completo. As emoções dos homens não se revelam suficientemente fortes ou consistentes, ao ponto de alber­garem 0 vazio. Quero com isto dizer que os pensamentos e ideias que invadem o meu espírito enquanto corro permanecem subor­dinados a esse espaço oco. Na medida em que lhes falta conteúdo, mais não são do que pensamentos ao correr da pena que têm como eixo a natureza do próprio vazio. As coisas que me vêm a cabeça enquanto corro são como nuvens no céu. Nuvens das mais diferentes formas e de diferentes tamanhos, que vão e vêm enquanto o céu permanece o mesmo de sempre...”


excerto do livro de Haruki Murakami (2009). Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo. Casa das Letras.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

5 a 2

Esta semana levei uma abada. A preguiça ganhou-me 5 a 2, pois só consegui correr 2 vezes: no dia 1 em Viana do Alentejo, a ritmo de caracol e ontem, dia 3, em Lisboa a ritmo de turista.

O ritmo de turista é um novo tipo de treino que vai passar a estar presente nos meus planos de treino o ombreando com as séries, os fartleks, os ritmos, os semi-longos, os longos, etc.

O princípio do treino é simples mas necessita de pelo menos duas pessoas. Uma delas tem assumir o papel de guia (não há “bom turismo” sem um guia) e deve levar o grupo por onde a sua alma indicar. Depois deve variar ao máximo os ritmos, os pisos, a inclinação do percurso e a conversa. O treino não tem limite de tempo nem percurso preestabelecido. Tudo deve ser deixado ao acaso. Ontem foi assim.

mapa do treino turista

perfil do treino turista

ritmo do treino turista