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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Maratona de Hamburgo

Antes de tudo

Há dias assim… na véspera adormecemos com dificuldade (com a cabeça cheia de coisas) e de manhã acordamos sem vontade nenhuma de corrermos.
No domingo passado (17/4/2016) foi um dia desses. Quando acordei o que mais me apetecia era ficar no meu casulo… isolado de tudo e de todos.  Mas não podia ser.  Desistir? Depois de 91horas de treino realizadas durante 20 semanas onde percorri mais de 1000km. Nem pensar nisso é bom.

Um dos últimos treinos com parte da equipa IRun e com doping.
Resolvi que o melhor era não me dar importância e “fazer-me a vida”. O plano tinha sido delineado de véspera em conselho IRun.  Eu e o Tiago iríamos para a partida, o Pedro iria com a nossa claque (munidos com a bandeira oficial de Portugal) para o km 12 e de lá partiria como lebre do Tiago. Depois descansaria uns minutos, em local a decidir mais tarde (desde que as nossas incansáveis apoiantes estivesse lá), e continuaria comigo, a ritmo mais descansado.
O Tiago no dia antes da prova tentou por todos os meios dar cabo da possível concorrência.

Na véspera foi montado no nosso apartamento uma autentico gabinete de apoio ao atleta.

Eu na véspera pedi a todos os deuses uma boa prova. Até ao BUDA de lá de casa.
Até à partida
Um pequeno almoço simples preparou-nos para o que aí viria. Resolvemos sair de casa cerca das 8h pois a partida seria dada às 9h. O local de partida ficava a menos de 1000 metros do apartamento onde estivemos durante o fim de semana.  Quando saímos de quentinho da habitação ficámos assustados, pois estava muito desagradável. A conjugação de temperatura baixa (6ºC) com o vento estava a furar-nos os planos de correr de calções e camisola IRun de manga curta

O local da partida estava muito bem organizado. A ideia de colocar a entrega dos sacos de roupa dentro de um pavilhão é fantástica, pois ajuda-nos a tirar as camadas de roupa paulatinamente e esperar, ao quentinho, que a hora de partida chegue. Quinze minutos antes das 9h seguimos para a nossa entrada (E). Não foi fácil lá chegar, pois a multidão andava devagar. Mas tinha as suas vantagens pois o aglomerado de pessoas protegia-nos do vento e do frio, afinal íamos equipados conforme as regras dos IRun’s (eu só acrescentei umas luvas - ao jeito do João Alves para dar estilo).

Chegamos ao nosso bloco de partida just in time, deveriam faltar 3 ou 4 minutos para a ordem de marcha. Dois minutos depois do “tiro” oficial de partida começou a nossa prova. Agora era só “Follow de Blue line” (Uma curiosidade dessa corrida é que foi a primeira maratona a pintar a “blue line” no percurso, em 1986).

Os primeiros km’s
Passado poucos minutos de prova o Tiago foi à sua vida… para atingir os mínimos de Boston ele teria de fazer menos de 3h25 e para estar 100% seguro da sua entrada menos de 3h20. Eu, durante cerca de 1km ainda o fui vendo ao longe… depois passou a ser uma miragem por quem “fiz figas” durante todo o percurso.

Parida da Maratona de Hamburgo em conformidade com as regras IRun (os primeiros 5 metros só eu posso ir à frente)
O meu objetivo era melhorar os mínimos obtidos em Amesterdão (3:37:45) que eram curtos para conseguir atingir a almejada entrada em Boston. Por isso, como o Tiago, achei que o melhor seria fazer pelo menos 5 minutos (3:35:00).

Apesar de não estar em modo “transcender-me” lá fui eu. Para os primeiros 5km tinha planeado fazer a média de 5:08/km. Em modo “distração” (dei muitos Hi5 as crianças) fiz de forma tranquila 5:02/km de média. Foram os únicos km’s que fiz abaixo do planeado. Mais ou menos por essa altura bateu-me a forte a vontade de não continuar. Não estava com determinação, sentia-me com o estômago cheio, o peito do pé começou a doer, a passada não estava solta e o moral estava num nível muito baixo.

SOCORRO tirem-se daqui… 

Com este quadro os 3:35:00 passaram a ser uma autêntica miragem. Ponderei, por várias vezes, em desistir. Quando chegasse junto à equipa de apoio (12km) agarraria nas minhas coisas e ia para casa. Mais uma vez concentrei me nos Hi5 e no apoio constante dos espetadores sorridentes. O moral foi subindo.

Até aos 31
Quando cheguei aos 12 km’s lá estava a Patrícia e a Carmen com a bandeira dos tugas. Por essa altura já tinha na cabeça que iria fazer mais uns km’s pelo menos até à próxima zona de apoio. O apoio dado ajudou-me a pensar que talvez com calma conseguisse terminar. E quem sabe... se não conseguiria ainda atingir o objetivo. Vendo bem as coisas não estava atrasado, bem pelo contrário. No planeado deveria passar aos 10km, se fosse a um ritmo regular, em 50:57 e em 50:40 se fosse a um ritmo irregular. Eu passei mais rápido em 50:23, mas claro com o moral em baixo.
A bandeira e a claque. Um dos meus antídotos contra a desistência durante este dia
Dos 10 aos 15 km ainda me aguentei passei com 1:15:30. Por esta altura o peito do pé começava a doer consideravelmente, mas como numa maratona dores é coisa que sempre existe resolvi “dar desprezo” às ditas cujas. Para “aumentar a minha dor moral” a equipa de suporte não consegui chegar a tempo de nos ver ao km 16 (nem mais tarde ao km 25). No, entretanto, o cansaço físico começava a chegar, passei à meia-maratona em 1:46:38, cerca de um minuto mais lento do que estava inicialmente planeado.

Daqui para a frente à queda começou a produzir-se de forma mais drástica. Aos 30 km tinha um pouco mais de 2 minutos de atraso (2:32:43). Já só pensava no Pedro, na Carmem, na Patrícia e na bandeira. Já devia estar quase lá…

Em companhia do Pedro
Mais do que alguém que me puxasse eu estava a necessitar do meu amigo e companheiro de aventuras que me desse os mimos da sua presença. Quando aos 32km o vi, em conjunto com a nossa equipa de apoio, não parei, nem me desviei para dar um oi (fisicamente já não conseguia) mas por dentro houve uma explosão de alegria. Deu-se um reboot… até pareceu que as minhas pernas começaram a andar mais depressa.

O começo do reboot.
Nos primeiros km’s, com o Pedro, pus a “conversa em dia”. A minha preocupação principal era saber do Tiago. Aparentemente tudo ia bem. Bem melhor do que inicialmente planeado. A perspetiva de sucesso do Tiago ajudou-me a tornar os km’s seguintes “mais fáceis”. Quando cheguei aos 35km, em 2:58:48, fiz umas contas por alto e verifiquei que se me aguentasse até ao fim a uma média de 5:30/km deveria terminar a prova entre o minuto 38 e 39. Fraco, mas não tão mal como eu achava que ia ser. Iria ficar novamente na zona de mínimos para Boston. Mas, como era pior que em Amesterdão não serviriam para nada.


As novidades contadas pelo Pedro aos 32km
E lá fomos os dois, eu tentado controlar a minha performance para não sair fora da previsão anterior. Por volta do km 38 deu-me um clique e disse para comigo “…não pode ser há que pelo menos fazer um esforço para as coisas serem um pouco melhores...”. O resultado foi que durante 1,5km andei mais rápido (5:08/km). Mas foi sol de pouca dura. Rapidamente voltei ao regime anterior. Mas valeu a pena, pois ganhei segundos preciosos e mantive-me um pouco melhor do que planeado à uns quilómetros atrás. O resultado deste forcing final foi conseguir cortar a meta em 3:37:21, vinte e quatro segundos melhor do que em Amesterdão. O que apesar, de ser dois minutos e vinte e dois segundos pior do que eu queria foi muito bom dado as circunstâncias. Este tempo fica unicamente a dever-se a pura teimosia. Mas na verdade senti que hoje dificilmente podia ser melhor.

Para terminar
Em jeito de conclusão poder-vos-ei dizer que como as outras provas só ter vindo Hamburgo já valeu a pena. O melhor do fim de semana foi estar junto de amigos que ajudaram a dar o colorido a esta minha 24ª Maratona de estrada e o Tiago ter feito um tempo canhão (3:17:43) que lhe abre as portas a estar em Boston em abril de 2017.

A próxima? A 25ªMaratona?

Já estou inscrito a partir de hoje… 9 de Outubro de 2016








domingo, 25 de outubro de 2015

Maratona de Amesterdão 2015

Introdução

Foram 21 semanas de preparação. Já há muito tempo que não fazia um plano de treino tão longo, mas desta vez justificava-se. As maratonas anteriores foram mal planeadas. Pouco adequadas, ao trabalho, às motivações, à idade e um sem número de outras coisas. Consequências? Várias…  entre elas algumas lesões frustrantes. Por esta razão, decidi que que este plano teria de ser muito progressivo e aberto a todas as adaptações que o corpo pedisse. Num período de quase 5 meses, treinei com muitas pessoas e falei das minhas expetativas com muitas mais. É com vocês todos que partilho este meu pequeno relato, sobre a Maratona de Amesterdão, pois de uma ou outra forma foram importantes neste meu caminho.

Antes de tudo

Está prova começa no Natal de 2014 quando a Carmen me oferece como presente de Natal a inscrição na maratona de Amesterdão de 2015. Fiquei muito feliz. Sempre foi uma prova que quis fazer e ir-me-ia permitir conhecer uma cidade que há muito desejava conhecer. 

Entretanto estava em processo de treino para a maratona de Sevilha em fevereiro deste ano. O treino estava a correr mal…  lesões, falta de tempo, falta de vontade, falta de motivação… tudo estava lançado para que o “desastre“ acontecesse… é assim foi… terminei-a, mas em mau estado físico e mental. Imediatamente decidi que na próxima teria de ser diferente.


Chegada na Maratona de Sevilha 2015
Para começar tinha que haver ter uma cenoura maior (motivação). Foi fácil… iria retomar o objetivo de fazer mínimos para Boston. Já os tinha atingido há uns anos atrás, mas devido a razões económicas não consegui fazer na altura a viagem até Boston.

Para ir a Maratona de Boston, já só me poderia inscrever em 2016 para fazer a prova em abril de 2017. Nessa altura já estarei no escalão +55 anos sendo o mínimo para este escalão mais conforme com as minhas reais possibilidades (3h40m). É certo que desde novembro 2012 que não fazia uma marca inferior aos mínimos. 

Alcançar os mínimos é possível? Claro que é.... difícil? claro que sim... então… mãos à obra. 
Round 1 - MARATONA DE AMESTERDÃO 

A primeira tentativa para Boston seria em outubro de 2015, para me poder inscrever em setembro de 2016, para correr em abril de 2017. Uauuuuu… isto sim é um plano a médio prazo
E lá fui eu fazer o meu plano…  para 18 de outubro de 2015.

Treino

Fiz um plano de 20 semanas (começaria a 1 de junho) mas tinha uma semana zero, ou seja, na verdade planei 21 semanas. Era um plano moderado com subidas muito ligeiras de quilometragem/intensidade e com períodos de descanso.
Teria de cumprir parte dele em férias, o que era mais uma dificuldade a somar às diferentes fases do trabalho, às férias de família, e a temperatura (treinar essencialmente no verão em Portugal nem sempre é uma tarefa fácil de realizar). Mas com a ajuda dos astros tudo se conjugou.

Corrida WeRun - A primeira prova no plano de treino
Como é normal em tantos km’s de treino (foram 1037km em mais de 94h) houve momentos fantásticos e outros menos bons. Mas como diz um amigo meu “… faz parte”. Mas o melhor de tudo é que a maior parte das passadas foram feitas na companhia de amigos, amigos que chegam pela corrida, mas que ficam por tudo o resto. E mesmo quando corri sozinho os corredores e os menos corredores lá estiveram ajudando-me a cada minuto.

Um bom treino com o Paulo e o Duarte
O treino correu quase sem percalços. Exceção feita ao dia 24 de setembro, quando num treino de séries (10x800mts) no início da nona série o meu adutor da perna direita deu de si… uma micro rutura obrigou-me a estar parado durante uma semana. Foi um pequeno susto. Depois os treinos recomeçam ligeiros e tudo se recompôs. 


fotos do ultimo longão (35km) que não fiz devido à lesão
Esta micro lesão teve o condão de aumentar o tempo tapering de 3 para 4 semanas o que no final até foi bom (o tempo de paragem, ou diminuição da carga, deixa sempre ansiosos os maratoneiros – pois peçam que os km’s que realizaram não são suficientes).


Antes da prova

O último treino foi feito na quarta-feira antes da prova, um feito a solo nas imediações de casa a ritmo de recuperação onde me senti muito pesado, o que também é normal, mas que provoca uma sensação desconfortável e logo nos leva a questionar “como eu vou consegui fazer a Maratona no domingo?”

Tirei uns dias de férias pois queria conhecer a cidade. Partimos na sexta-feira de madrugada (5h – como custou)- Aproveitamos o dia para ir à feira da Maratona levantar os dorsais visitar um museu e começar a fazer o “enchimento“ de hidratos de carbono. Coitada da Carmen no sábado já não podia ver mais Italian food.

Na feira da Maratona
No sábado tínhamos planeado levantar cedo para visitar o museu Van Gogh, almoçar e fazer uma viagem de barco pelos canais à tarde, de modo que me permitisse ver a cidade e ao mesmo tempo não
esforçasse demasiado as minhas pernas.


Autoretrato de Van Gogh
O museu foi um excelente programa que demorou toda a manhã. Depois lá fomos para uma rua cheia de restaurantes italianos cumprir mais uma fase do enchimento. Estava eu já na fase de inicial de lubrificação vinícola quando se senta ao nosso lado um casal… quando olho para o lado… como… estou a ver bem? O meu amigo Pedro estava sentado ao meu lado. Uauuuu...... que surpresa fantástica. Ele e a Paula tinham vindo de propósito de Lisboa. O Pedro iria correr comigo parte da prova. Nunca suspeitei da surpresa… já tinha valido a pena vir a Amesterdão fazer Maratona.


Equipa Amesterdão
Fosse qual fosse o resultado já tinha tido o meu presente… já estava relaxado. O resto da tarde foi muito boa… e também planeamos a prova. O Pedro encontrar-se-ia comigo aos 10km’s e iria comigo até onde as pernas lhe permitissem (ao fim pensei eu… pois este homem mesmo com pouco treino tem pernas para mim  :)  ).
Agora tinha que descansar… mas antes disso a foto de praxe na noite anterior.


 
Pronto para a prova

Prova

A prova começava às 9h30 estando hospedado a 15 minutos (tempo de caminha) do local de partida. Acordei às 7h30, para um pequeno-almoço ligeiro e sai de casa pelas 8h30. Numa caminhada tranquila aos poucos e poucos, de todo o lado, foram aparecendo os meus “adversários”, a temperatura estava fresca (7ºC) mas tolerável pois não havia vento. O drop off das roupas foi muito fácil e extremamente organizado. Tinha combinado encontrar-me, nesta zona, com o meu amigo Pedro Oliveira (com quem tantos treinos/provas fiz no passado) que estava também em Amesterdão para fazer de lebre, mas não conseguimos. Fiquei triste, mas pensei que mais à frente talvez o encontrasse. Às 9h rumei em direção ao interior do estádio. Um ambiente muito bom.


Drop-off das roupas
Quando fui para a minha baia (a cor de rosa – corredores entre 3h e 3h30) começou a chover miudinho, e assim ficou o resto da prova, como seria de esperar encontrei logo um grupo de portugueses (na prova da maratona terminaram 66 atletas portugueses).


Eu estava a cerca 150 metros da meta, quando a partida foi dada fui caminhando até 50 metros da mesma e a partir dai comecei a correr logo ao ritmo que desejava. De todas as maratonas que fiz esta foi aquela onde nunca senti que ninguém me estava a atrapalhar nem vice-versa.

A minha partida

Nos dias que antecederam a prova elaborei um plano de ritmos que me ajudasse a orientar a prova. O plano tinha duas visões. Na primeira faria toda a prova a ritmo regular de 5:13/km e o segundo a um ritmo irregular. Sei por experiência que normalmente o meu ritmo é irregular e tem um split positivo, ou seja, faço a primeira meia-maratona mais rápida do que a segunda.
tempos de passagem planeados para a prova
Aproveitando a “boleia” dos portugueses parti ligeiramente rápido. Os primeiros 5km foram muito fáceis e a passagem a ritmo regular de 5:02/km fez com que ficasse com 31s de avanço ao previsto. Os dois pontos altos desta parte do percurso foram a passagem pelo Vondelpark, o maior parque publico de Amesterdão com 48 hectares cheio de árvores, lagos, caminhos e campos de jogos e por dentro do Rijksmuseum, a famosa passagem que liga o centro da cidade com o sul de Amesterdão.


Vondelpark

Rijksmuseum
Fiz quase todos os primeiros 10 km com um Português de Guimarães (o Ernesto) em amena cavaqueira. Passei aos 10km em 49:50 com 1:30s de avanço em relação ao previsto. A partir do abastecimento comecei à procura do Pedro. De repente, na Churchillan (km 11), lá estava ele e o resto da minha claque (a Paula e a Carmen). Fiquei muito feliz. A partir daqui continuei com o Ernesto ao meu lado e dando conta ao Pedro de como tinha sido os primeiros km’s. Tudo estava bem.


A partir daqui fomos em direção ao rio Amstel. Esta parte rural do percurso, com cerca de 12km, tem uma esplêndida vista panorâmica com muitas belas mansões e antigos moinhos de vento. O rio estava cheio de atividades. Por volta do Km 15 o meu companheiro de partida continuou a um ritmo mais rápido do que eu poderia ir... então comecei a resguardar-me. Ao km 15 ia com 2:02 acima do inicialmente previsto. E lá continuamos bem-dispostos gozando as vistas do percurso rural. Passamos à meia-maratona em 1:45:29 bem acima do inicialmente previsto (2:16).

Quando saímos da zona do rio (por volta do km 25) encontramos novamente a minha claque da qual recebi um novo folego. Agora sim.. a corrida começava. Sabia que os 2:41s ganhos até aqui seriam essenciais para o resto do percurso onde de certeza entraria em perca maior do que aquela prevista no meu plano. Mesmo assim o pico de tempo gando em relação ao previsto deu-se ao km 33 onde atingi 3:00 de avanço. A partir daí comecei em queda e nos últimos km’s perdi cerca de 45s.

A partir desta zona começou o verdadeiro trabalho da lebre começou... falava de tudo o que se lembrava para não me deixar concentrar no desconforto da dor. Até ao km 40 não cai muito.

Um pouco antes deste ponto encontrei o meu amigo Pedro Oliveira, que tanto procurei à partida. Foi o meu ultimo doping. Foi com alegria imensa que me detive uns segundos a abraça-lo. Bem-ditos segundos.



O encontro com o Pedro Oliveira
 A partir de mais ou menos os 39km's entramos novamente Vondelpark e lá ficamos durante 2,5km. As pernas estavam horrivelmente pesadas. A vontade já era pequena e o Pedro lá continuava dando o seu melhor. Ao sair do parque eu sabia que os mínimos já cá cantavam agora era só rolar como pudesse.

Os últimos metros
À entrada do estádio e quando faltavam só 500metros lá estava a minha claque era o que eu precisava para completar os últimos metros. Ainda antes de cortar a meta passei por uma atleta francesa completamente aos ziguezagues fez alguma impressão mas nem consegui olhar para trás e lá fui eu completamente concentrado. CORTEI A META. De seguida foi um momentâneo descarregar de emoções. Estava cansado, consegui terminar em 3:37:45, Boston Time – talvez ainda não suficiente para estar presente em Boston em 2017, mas muito moralizador.

Cortar a meta
Todo processo para esta maratona teve o condão de me relembrar que não são as maratonas e os tempos o mais importante, mas sim tudo o que o rodeia. O antes, o depois… e fundamental os amigos e companheiros que encontramos em todo este processo. Como diz o poeta:

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis!”
Fernando Pessoa



segunda-feira, 9 de junho de 2014

Mais um desafio

Faz, no dia 11 de Junho 12 anos que recomecei a correr. A historia do como e porquê já aqui foi contada há uns anos atrás  (http://goo.gl/HHaFRBl), mas de forma resumida posso dizer-vos que foram fundamentalmente razões de saúde mental e física que me impeliram a fazer este investimento. 

(Corrida TSF Runners 2013)

Sempre desde pequeno fui uma pessoa com apetência para as actividades desportivas e por isso de uma forma ou de outra correr esteve sempre presente. Lembro-me muito bem antes e durante a minha licenciatura de correr. De forma esporádica acompanhado ou sozinho. Na altura o único acompanhante tecnológico que tinha era um fantástico relógio digital que o meu pai me tinha dado pelos anos. Quantos KM fazia? A que velocidade? A que frequência cardíaca (a que pulsação – era como dizíamos na altura)? Não faço a minimia ideia… só me lembro que quando terminava determinávamos a nossa frequência cardíaca (por fracções de contagem de 15s) e qual era a recuperação 1 e 5 minutos após o esforço, assim avaliávamos, grosso modo, a nossa forma física.

Mas nos períodos, acima descritos, a corrida não ficou na minha prática regular. As razões? Sei lá. São tantas. Outras motivações: desportos, casamento, filha, trabalho, falta de tecnologia, não fazer nada e mais um sem número de razões que na altura me pareciam plausíveis e na verdade atractoras para engrossar a trupe que adoram “l'arte di non fare niente”.

Descobri que para mim é difícil correr, só por correr. É muito importante ter sempre objectivos (cenouras) que obriguem a continuar e que me desafiem um pouco mais. Uma das cenouras mais importantes é competir. Desde que eu fiz, nesta série de actividades, a minha primeira corrida (Corrida do Tejo 11,2km no dia 13/10/2002 em 1:02:57) fiz 109 provas entre elas fiz 19 maratonas. Todas estas 109 provas tiveram um pequeno desafio. Conseguir a distância, melhorar o tempo, acompanhar um amigo ou só viver uma nova experiência. Todos foram desafios que me levam sempre a querer fazer a próxima prova.

As maratonas têm sido o desafio mais sério, pois obriga-me a treinar segundo um plano, que elaboro antecipadamente e que tento, dentro de um determinado limite, seguir de forma o mais escrupuloso possível. Mas na verdade há cerca de dois anos que não consigo seguir um plano de treino. Os planos tenho os feitos, mas segui-los… não tem sido possível. Lesões ou falta de motivação têm feito guerrilha às minhas motivações.

Acho que chegou novamente a altura de eu seguir um plano de treino de forma rigorosa para que consiga completar mais uma maratona (a vigésima) e se possível entre as 3h30 e as 3h40. O plano já está elaborado e pode aqui ser consultado:

A prova será a Maratona de Lisboa no dia 5 de Outubro de 2014.

CONTO CONVOSCO!


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

e esta Maratona quantos km’s tem?

Todas as maratonas "da minha vida" iniciadas formam terminadas… nem que fosse, como esta, em estado lastimoso. Não foi uma surpresa. Todos os meus amigos já anteviam este desfecho até aqueles que normalmente fazem aquela típica pergunta “… e esta Maratona quantos km’s tem?...”

O início da prova
O plano foi traçado… começar devagar e manter-me nesse ritmo confortável o máximo de tempo possível…. e assim foi. Aproveitei a beleza inicial do percurso e desfrutei o máximo que pude. Fui até ao Estoril nas calmas, os primeiros 5km foram usufruídos à média de 5:33/km e quando fiz a descida do Casino do Estoril estava colado ao marcador de ritmo das 4h. Passado um pouco, ultrapassei-os mas logo disse para os meus botões “…eles mais tarde apanha-me…” e apanharam-me mesmo.
Percurso da Maratona e o meu ritmo (acumulado e parcial)

O percurso desta nova Maratona é  bonito (exceção feita aos últimos 8km’s) e eu e a minha “lebre de serviço”, que na verdade estava mais em forma do que eu pois fez um treino de 33,5km nas calmas (feito em duas partes 13,8km + 19,7) tentamos olhar mais para a beleza natural do que preocuparmo-nos com a prova. Mais tarde eu sabia que ira começar olhar mesmo só para o chão. 
Em esforço a chegar à meta
Até cerca do km 30 (próximo do Cais do Sodré) as coisas foram andando sem grande sofrimento… e com algumas boas surpresas: a passagem pelo jardim de Oeiras; a supressão da subida da Boa Viagem (logo a seguir a Caxias) substituída pela passagem no paredão até à Cruz Quebrada cheio de jovens simpáticos a incentivar os participantes com bandeiras dos diferentes países participantes. A meia maratona foi cumprida, na reta entre a Cruz Quebrada e Algés, em 1:55:30 e pouco depois (em Algés) a minha lebre esperava-me depois de um pequeno descanso. A partir dai liguei o botão do sofrimento. As pernas começaram a pesar.
A alegria contagiante de uma "lebre"
Como disse não há milagres, pouco treino é igual a sofrimento pela certa. Aquela pequena entrada dentro da cidade (do Terreiro do Paço até aos Restauradores) é difícil psicologicamente, e não só, de tal maneira que do Cais do Sodré (km 30) até mais ou menos a Santa Apolónia o ritmo por km decaiu 32s. Foi o fim… a partir daí foi tudo cabeça e muita ajuda psicológica da minha lebre. Nos 5km’s seguintes o ritmo caiu mais 48s (para 7:03/km – que loucura) houve alguma caminha naquele deserto, que é o caminho até à Expo. Mas eu não era o único, pois o abrasador calor não dava tréguas a ninguém. Neste percurso encontrei o colega Gonçalo que já vinha a sofrer algumas dores musculares mas mesmo assim ainda teve a coragem de suportar a dor para fazer uns km’s em conjunto comigo.
O princípio do fim
Depois o mais difícil estava feito, deixei-me ir (com alguma caminha) e lá terminei com o meu pior tempo de sempre 4h07m15s. O record negativo estava batido. Mas no fim estava feliz pois tinha concluído mais uma maratona (a décima oitava), desde a última como muitas coisas tinham acontecido que não me “deixaram” treinar de forma regular.
A recta da meta
Mais uma vez os amigos foram essenciais: aqueles que me suportam no não treino, a Ana que me levou ao colo durante a prova, aqueles que me esperam no final da meta e aqueles que na mente me empurram até ao fim contra todas as expectativas.

Eu no centro, com o Paulo (que fez um excelente tempo - um corredor nato) e a Ana (a minha lebre de serviço)
Em Novembro estarei mais uma vez na Maratona do Porto, não sei se para fazê-la toda mas pelo menos para fazer de lebre de serviço.

Maratona do Porto